segunda-feira, 26 de outubro de 2020

[RESENHA] Quarto de despejo

Diário de uma favelada...
"(...) Toquei o carrinho e fui buscar mais papeis. A Vera ia sorrindo. E eu pensei no Casemiro de Abreu, que disse: 'Ri criança. A vida é bela'. Só se a vida era boa naquele tempo. Porque agora está apropriada para dizer: 'Chora criança. A vida é amarga'."

  Favela do Canindé, década de 50. Carolina, uma mulher negra, pobre e semianalfabeta vive com seus 3 filhos em um barraco. Para fugir dos problemas que a vida difícil lhe proporciona, Carolina escreve diários. Ela tem a esperança de um dia poder publicá-los. E consegue.

"...Estive revendo os aborrecimentos que tive esses dias (...) Suporto as contingências da vida resoluta. Eu não consegui armazenar para viver, resolvi armazenar paciência."

  Entre narrativas simples e extremamente cotidianas, Carolina fala sobre suas dificuldades, principalmente para conseguir dinheiro. A fome é um personagem presente na vida da mãe solo e dos seus filhos. Os dias são tão semelhantes que eu - abusadamente - chamaria de repetitivo, e de fato é. A felicidade também existe, porém, a tristeza dura mais.

"...Eu classifico São Paulo assim: O Palacio, é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos."

  Honestamente, não sou fã de diários, tenho certa dificuldade em lê-los pelo fato de serem repetitivos. Mas, a narrativa sensível da Carolina me toca, temas como esse me tocam. É a realidade de muitos brasileiros, inclusive nos tempos atuais. Dói ler, dói saber dessa última informação. Se você está lendo essa resenha, é privilegiado por ter acesso à internet, tem gente que nem comida tem. Felizmente, a história dela acaba bem.
  Sobre a edição que li (de 1993), tenho algumas observações. Bom, não sei se cabe às edições mais recentes... O livro foi editado pelo jornalista Audálio Dantas, que na introdução diz ter alterado pouquíssimas coisas no texto. No entanto, eu discordo; o texto tem muitas edições. A autora era semianalfabeta, ela mesmo fala sobre sua escolaridade no livro, livro este com uma gramática muito rebuscada em contraposição com a escrita original coloquial, com erros ortográficos. Não tem equilíbrio, tá tudo misturado na mesma sentença. Detalhes de edição a parte, eu não duvido que o livro seja dela. 
  A leitura é indispensável, precisamos mergulhar nessa realidade que existe, persiste e cresce no Brasil. Até mais, preguiçosxs!

2 comentários:

  1. Um livro que tem muito a nos ensinar, realmente. Gostei das suas ressalvas.

    Bom fim de semana!


    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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    Respostas
    1. Boa tarde, Emerson!
      Agradeço o comentário.. Esse livro tem muito, muito a nos ensinar!

      Até :)

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