segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

[RESENHA] Cara Marfisa,


Saudações preguiçosxs!
O livro de hoje é "Cara Marfisa," do Paulo Salvetti.
Nós recebemos esse livro há um tempo, mas só agora conseguir lê-lo pois eu estava sem óculos.
Espero que gostem.

Cara Marfisa, - Sinopse: Uma mulher de mais de 70 anos está diante de um dilema que a assombra: depois de décadas de silenciamento, a irmã reaparece: “É Marfisa. Não precisa responder nada agora. Só me ouça. Tive o mesmo sonho já umas dez vezes. Você pintando nós duas como somos agora. A gente precisa ter um quadro juntas antes de morrermos. Pense e me mande um sinal”. Diante da dúvida, a narradora deste romance recupera e cruza histórias, momentos e reflexões, transitando entre tempos presentes e passados que conduzem para complexidades da relação entre elas.

Na tentativa de reconstruir o passado, ela pensa, conta e martela sobre seu modo de enxergar a irmã, mas aos poucos o que vaza por infiltrações descontroladas é o enredo de suas próprias experiências, em meio ao sincretismo religioso, aos desajustes familiares e à vida difícil da Vila. Dessas infiltrações também ressoam ecos da voz de Marfisa, que reivindica o espaço de suas palavras por meio das cartas escritas ao longo dos anos. Edifica-se disso uma polifonia que acentua a dúvida constante: quem fala a verdade? Qual é a verdade? Existe verdade?

“Cara Marfisa,” é um espaço memorialístico de reflexões sobre as agruras de uma vida pobre, na qual as paixões foram se ressecando e incorporando-se em modos de viver de tal forma que, quando se vê, o tempo passou sem que as experiências pudessem ser exploradas no campo do prazer. Mais que a história de duas irmãs, este enredo é sobre tentativas de compreender a inveja, a traição e os limites entre o amor e o ódio nas relações íntimas configuradas por afetividades turvas, ofuscadas pela incomunicabilidade.

Quando peguei esse livro nas mãos sinceramente achei que seria péssimo, não seria algo que estava acostumada a ler, mas felizmente foi uma surpresa, tanto que o terminei em um dia.
Cara Marfisa trás um jogo de emoções e reflexões, tempos e contextos que te fazem se enxergar dentro da história. Uma mulher de 70 desafiada a pintar um quadro com alguém que não fala há tantos anos mesmo sendo sua irmã.
A trajetória de todas as personagens de te convidam a ser personagem dessa história, Marfisa sempre teve tudo e queria algo mais, ao meu ver gostaria de ser a irmã mesmo que sem perceber.
O livro mistura o passado e o presente, em primeiras impressões não entende-se bem o porque de tamanho afastamento por parte da pintura, mas vendo o começo de tudo se vê que ela tinha razão.
Acredito que tenha me identificado com a personagem, quando nos afastamos de alguém sempre somos crucificados, não entendem o porquê e fica um amplo espaço para julgamentos, mas há algo em nós que pede isso e não sabemos explicar.
Cara Marfisa trás isso, são perspectivas embora narrado em primeira pessoa você tem a visão de amar ou odiar a personagem, entendê-la ou simplesmente achá-la egoísta. Fazia tempo que não lia um livro bem escrito e que encantará-me desde a primeira página.
Eu sem dúvidas super indico o livro e desejo um ano novo repleto de novas histórias.

Trechos:

" O azul do céu tem uma graça esquisita. Você olha, vê um azul, vê um limite, chama de céu, e não é exatamente nem uma coisa nem outra. O azul do céu é azul por causa do tamanho da distância desde o sol, fogo puro, até nossos olhos. O azul é do tamanho do tempo até ver. Se todas as distâncias fossem tão compridas quanto são no entardecer, o céu seria sempre laranja. Se está mais claro ou mais escuro, pode saber: é porque levou mias ou menos tempo pra chegar até os os olhos." pág. 34

"A morte, definitiva como é, empurra pra pensar tudo de novo." pág. 51

" O peso da mágoa é terreno de incontáveis alqueires sem poder tirar medida. Vivi a vida em tentativas frustadas de me aliviar. Quem sabe uma hora consigo. Pode ser depois. Quero estar em paz comigo ainda que dure pouco. Hoje me conheço mais, me aceito. Há dobrinhas que depois se desdobram em muitas. A cabeça da gente é uma loucura mesmo sem ser louco. Cansa. Estou exausta e mereço descansar. Colocar gases para esconder os cortes expostos. Quero me dar esse presente." pág. 253

2 comentários:

  1. Nossa que maravilha um livro desses, é ótimo nos depararmos com uma leitura boa como essa. Fico muito feliz por sua leitura, e Feliz Ano novo ^-^ Que venham muitas emoções boas *-*
    Jardim de Palavras

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    1. Oi Melissa, feliz ano novo é maravilhoso quando nos deparamos com uma obra incrível dessa e ainda mais nacional. Bjs

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