quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

[RESENHA] O conto da Aia


Século XXI. O presidente norte-americano e todo o congresso foi assassinado repentinamente. Pouco tempo depois, todas as mulheres são demitidas e tem suas contas bancárias bloqueadas. Protestos, mortes, fuga e um novo regime. Estamos na República de Gilead.

  A "República" de Gilead é uma sociedade patriarcal, totalmente militarizada, autoritária e teocrática. Nela, todas as mulheres são submissas aos homens. As leis são baseadas em uma interpretação distorcida e extremista da bíblia.
  Essa sociedade é estratificada, isto é, existe divisão social. Do lado masculino temos os homens de poder, eles são ricos e tem uma Esposa, são chamados de Comandantes. Existem os homens mais pobres, que podem ou não ter uma companheira. São Anjos, Guardiões, Olhos (espiões), etc.


"Isso é o que somos agora. As condições de vida foram reduzidas; para aqueles dentre nós que ainda têm condições."

  Já do lado feminino temos as mulheres ricas, incapazes de ter filhos, ou seja, inférteis. Retomando ao contexto, isso aconteceu pois, diversos acidentes nucleares assolaram o mundo, entre epidemias de aids e de sífilis que afetaram homens e mulheres. Como resultado temos mortes e infertilidade. 
  Também existem as Econoesposas, mais pobres, porém, casadas e inférteis. Além disso, existem as Marthas, mulheres destinadas aos afazeres domésticos como cozinhar e limpar. Por fim, existem as Aias, as únicas mulheres férteis que, obrigatoriamente tem o objetivo - único - de dar filhos às Esposas e aos Comandantes. Para isso, uma vez por mês durante a Cerimônia, a Aia mantem relações sexuais - compulsórias - com o Comandante, que é seu dono. As Tias são responsáveis por treiná-las. Não existe escolha. Pra ninguém. Ah, e cada "classe" usa uma roupa que a distingue.


"Melhor nunca significa melhor para todo mundo, diz ele. Sempre significa pior, para alguns."

  As pessoas que não se encaixam nessas categorias - seja homem ou mulher - são enviadas as Colônias, regiões que funcionam como campos de concentração. Lá, essas pessoas limpam lixo tóxico até morrer. Já os considerados subversivos (professores, homossexuais, pessoas que vão contra o regime, etc) são enforcados no Muro.


"Isso é uma reconstrução. Tudo, cada detalhe é uma reconstrução. É uma reconstrução agora, em minha cabeça, enquanto estou deitada estendida em minha cama de solteiro, ensaiando o que deveria ou não deveria ter dito, o que deveria ou não deveria ter feito, como deveria ter feito meu jogo. Se algum dia eu sair daqui..."

  O livro conta a história de uma Aia, que outrora foi uma mãe casada que possuía autonomia, liberdade e um emprego. Ela lembra de tudo e não é fiel ao governo. Em 1ª pessoa e de forma alinear ela narra sua rotina alternado com memórias do seu passado não muito distante. Essa Aia se chama Offred e embora a situação seja quase irreversível, ela tem a esperança de rever sua filha e seu marido, logo, ela precisa sobreviver. Em relação ao enredo, prefiro parar por aqui...


"Mesmo assim me dói contá-la outra vez, mais uma vez. Uma vez não foi o bastante: uma vez não foi o bastante para mim na ocasião? Mas continuo com essa história triste, faminta e sórdida, esta história manca e mutilada, porque afinal quero que você a ouça, como ouvirei a sua também se algum dia tiver a chance, se encontrar você ou se você escapar, no futuro ou no Céu ou na prisão ou na clandestinidade, em algum outro lugar."

  O conto da Aia é uma distopia impactante e assustadora. Com maestria Margaret Atwood conta uma história muito próxima de nossa realidade. Embora não mencione a data em que todo esse caos começou, observa-se marcas temporais reais, eventos reais, assim, deduzimos que se passe no século XXI. Ademais, o fato de ela mesclar eventos reais com eventos imaginados, torna a história mais real, como um presságio. Mas, por enquanto vamos chamar de distopia.
  A questão do feminismo é um tema super em alta nos dias atuais e uma discussão necessária. Nós mulheres sabemos de cor o que passamos todos os dias e o quanto lutamos para chegar até aqui, e ainda falta muito. Com efeito, todas essas conquistas incomodam. Incomodam pessoas machistas, homens e mulheres como aqueles que apoiaram a República de Gilead.
  Por um lado é triste, assustador; por outro é poderoso e dá um fio de esperança, sobretudo pelo final, que me surpreendeu muito. Ainda que a edição (da foto) tenha pequenos problemas de tradução eu recomendo demais a leitura, com certeza uma das melhores do meu ano. Atwood nos ensina que nós mulheres não podemos parar de lutar, nunca, mesmo que alguns direitos tenham sido garantidos. Isso (dos direitos conquistados) incomoda alguns, não é mesmo?
  Ah, existe uma série baseada no livro que está indo para a 4ª temporada. Preferi não deixar nenhum trailer aqui pois, ainda não acabei e desde o início pude perceber que ela é ligeiramente diferente do enredo. Provavelmente irei voltar aqui para fazer comentários sobre ela. Até mais, beijos!

*Um último detalhe bem interessante: ainda que a República de Gilead seja teocrática com embasamento na bíblia, não é especificado qual religião cristã é utilizada. Acredito que  não é nenhuma que conhecemos, baseado no que é narrado.

3 comentários:

  1. Meeu tô chocada!!! Como assim?? Parece mesmo a nossa sociedade atual misturado com ficção, é tão fascinante esse enredo, deve ser uma leitura muito viciante. Genteee eu amei kkk amo livros que tratam disso.
    Sua resenha então? Tá maravilhosa, expôs com clareza a mensagem e os sentimentos do livro. Não creio que já tem até série inspirado no livro!!!
    Não gostei nenhum pouco da capa, mas esse livro tem muito conteúdo, vou anotar aqui <3
    Jardim de Palavras

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    1. Olá, Melissa!!
      Coloca na sua lista, vale muito a pena!
      E obrigada pelo elogio, beijos!

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  2. Aaaaah que livro bom!
    Vlw Lorena por emprestar hahaha

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